O Tejo e a Epopeia: Imagens de (Des)Construção e de Poder na Literatura Portuguesa
Resumo
O estudo que ora se apresenta tem como precípuo objetivo analisar a relevância do Tejo enquanto símbolo de (Des)construção de imagens de Poder, na Literatura Portuguesa. Em muitas das obras analisadas, a imagem do rio figura como símbolo auspicioso, como metonímia de grandeza do povo lusitano. Não obstante o superno orgulho que recai sobre as personalidades que construíram a História, o presente trabalho procura demonstrar a contraversão que, a determinada altura, se efetua na imagem dominante na literatura das Descobertas – outrora superlativa –, que vai do homo viator, à voz narrativa que hoje apresenta uma versão derrisória da História. A influência das epopeias helénicas e da romana transmitem a Camões a ideia de grandeza e de heroicização de um povo – os lusitanos, tratando-se de Vasco da Gama ou dos seus marinheiros. Contudo, a ideologia Imperial, aquela que remete para uma visão oficial e outrora grandiosa do império, dá lugar a uma outra visão, na literatura romanesca contemporânea. Trata-se de uma perspetiva heterodoxa, face aos Descobrimentos portugueses, que apresenta a visão dos relegados da História, daqueles que, pelo seu pesaroso testemunho, dessacralizam a grandeza do Império, ao desnudarem a oposição Eu e o(s) Outro(s).
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