LITERATURA, CIÊNCIA E TESTEMUNHO: NOTAS SOBRE A HIBRIDEZ DISCURSIVA D’OS SERTÕES, DE EUCLIDES DA CUNHA, E DA OBRA EM PROSA DE RUY DUARTE DE CARVALHO
Resumo
Neste artigo pretendo traçar paralelos entre Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, e aspectos da produção em prosa do escritor e antropólogo angolano Ruy Duarte de Carvalho. Meu interesse será investigar o teor testemunhal da produção de ambos os autores, distantes no tempo por cerca de um século. Tomarei, assim, como elemento de comparação, o fato de ambos denunciarem crimes de máxima brutalidade: o extermínio de populações “resistentes” ao chamado “progresso da civilização”. No caso angolano, dos povos nômades do sul de Angola, em particular os kuvale; no caso brasileiro, da população de Canudos. Euclides da Cunha e Ruy Duarte de Carvalho testemunharam eventos de extrema violência, e, para denunciá-los, desenvolveram um discurso híbrido, entrecruzando o literário e científico. Será, contudo, o modo como diferem na elaboração desta hibridez entre ciência e literatura que me interessará particularmente investigar.