FIM DA AVENTURA, FIM DA VIAGEM. A TRAGÉDIA DO REGRESSO EM AS NAUS, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Resumo
Luis Cernuda escreve, em um poema sobre Ulisses, arquétipo mítico da experiência fi ccional da viagem, que “já voltar não interessa”. Se a viagem se propunha – em sua concepção clássica – como um movimento “duplo”, à procura do caminho da volta, a literatura do século XX se encarrega, ao contrário, de enfatizar o movimento constante, de ida só, com rumo para nenhuma meta. Pode-se tratar, às vezes, de uma viagem hipnótica (Celine), ou para um inferno alegórico e, ao mesmo tempo, íntimo (Rimbaud) ou para um autoconhecimento que fi ca incompleto e decepcionante (Conrad, Tabucchi, Chatwin). Assim, se viajar e escrever se parecem – como gestos antropológicos e filosófi cos – é porque o grau fi ccional é construído ambiguamente. Todavia, a experiência que a viagem e a escrita representam não consegue excluir, por completo, a “intrusão” do real. A realidade atua, nela, como questionamento da morada do sujeito (fixa, habitual, rica em memórias) e da distância (do conhecido, do familiar, do lugar que se torna insuficientemente satisfatório).